quinta-feira, 15 de abril de 2010

Memórias de um bêbado ll

Tudo bem, não me interessa, posso fingir que não me afeta.
Posso tentar  lutar contra o que eu sinto. Atitude meio que infantil, mas pela maioria das vezes, eficaz.
(Pelo menos para mim)
Cada vez que me iludo é um fardo de consciência jogado ao vento. Por vezes, me sinto sem utopia nenhuma, como se a realidade pesasse a cabeça..
Posso estar um pouco bêbado, mas ainda sei das coisas...
  
***


Acordei com  o corpo ruim, minha  cabeça parecia estourar.
Levantei do sofá, meu único pé que calçava uma meia, esbarrava nas latas de cerveja vazias jogadas pelo chão. Me arrastei até a cozinha e percebi, ao abrir a geladeira, que minha munição de álcool havia acabado, precisava descer pra comprar mais.
Lembrei que já era terça-feira e eu não tinha ido pro serviço, nem no dia anterior, nem na semana passada...
Pouco importa, me demitiriam mesmo.. Fora que eu já fiquei de saco cheio daquele trabalho de cu, sentado atrás daquela maldita mesa quadrada, na minha repartição sem ar condicionado, escutando problemas e desculpas o tempo inteiro..
De vez em quando, enganando um troxa qualquer, fazendo o grande movimento capitalista bancário ficar mais robusto do que já é... Grande merda.

Vesti uma camiseta qualquer e desci os cinco andares rumo ao boteco da esquina..
Lá, sentei e pedi uma 'breja' pro garçom. Depois da quinta cerva secada, e de uns 10 cigarros consumidos, eu já estava no meu estado normal, e resolvi ir pra casa. Já era horário de almoço e a cidade parecia ter vida própria, pessoas andavam de um lado para o outro, parecendo formiguinhas ambulantes, elas lembravam-me formiguinhas perdidas. Insignificantes formiguinhas..

Pessoas.
Brancas, negras, mestiças... Começei a observá-las.
Não tive vontade de subir, parei na portaria do edifício e me sentei nas escadas, observando as pessoas.
Gente diferente, parecida, esquisita. Gente querendo ser como outra gente...
Isso parece muito louco.
Gente deveria ser quem é. Pessoas deveriam ser elas mesmas, deveriam ser únicas. Como os olhares.
Como os olhares que me cercavam, cada par de olhos expressavam um pouco da alma de cada um..
Pensei no que as pessoas enxergavam em mim, e tive a grande idéia de não olhar para o espelho quando chegasse em casa...

Amém.

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